sábado, 6 de fevereiro de 2010

Por: Assis Filho




"Só tu és Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos com vida, e o exército dos céus te adora" (Neemias 9.6).
A realidade existe? Nossas vidas não passam de um programa de computador que roda nas nossas mentes? Nossas imagens são apenas uma projeção mental do nosso "eu digital"? Apenas sonhamos enquanto damos um duro medonho no trabalho? Adormecidos, nos entregamos em amor, enquanto as máquinas que dominam o mundo se alimentam das nossas energias?
Com o lançamento do filme Matrix Revolutions, o último da trilogia Matrix dos irmãos Wachowsky, essas perguntas voltam a povoar o consciente da humanidade.
No primeiro episódio da série, o personagem Morfeu nos esclareceu o que é Matrix:
Morfeu: A Matrix é um mundo dos sonhos gerado por computador... Feito para nos controlar... para transformar o ser humano nisso aqui (Morfeu mostra uma bateria).
Neo: Não. Eu não acredito. Não é possível!
Morfeu: Eu não disse que seria fácil, Neo. Eu só disse que seria a verdade.


A questão da verdade de Matrix em contraposição com a verdade do cristianismo já foi abordada anteriormente no artigo "Matrix e sua filosofia pós-moderna".
Não é só a trilogia Matrix que afirma que nosso mundo é virtual. Outros filmes são regidos pela mesma cartilha.
Em 1999, no mesmo ano em que foi lançado o primeiro filme da série Matrix, também chegava aos cinemas o 13º Andar, de Josef Rusnak, com Craig Bierko. No décimo terceiro andar do prédio de uma grande companhia, cientistas recriaram a Los Angeles dos anos 30 de forma tão realista que os habitantes nem desconfiavam que não existiam de fato – eram apenas um programa de computador. No final, ficamos sabendo que o nosso mundo contemporâneo também não passa de uma simulação.
Em 2002, foi lançado S1m0ne (com um 1 no lugar do i e um zero no lugar do o. É a abreviação de "Simulation One"), de Andrew Niccol, com Al Pacino e Catherine Keener. Pacino interpreta Victor Taranski, cineasta de pretensões artísticas, que consegue criar uma linda estrela de cinema virtual e com isso atinge inesperado poder e popularidade. Essa mulher virtual chama-se S1m0ne.
A civilização contemporânea está cada vez mais submersa no cyberespaço. A internet é um fenômeno perfeitamente real, que faz parte do nosso mundo e está afetando nossas subjetividades, nossas cosmovisões e nossos modos de ser e viver. A dinâmica da tecnociência é nossa aliada e passamos a viver fortemente influenciados por esses ambientes digitais. Até aí tudo bem, pois continuamos diferenciando o real do irreal, o fato da ficção, o verdadeiro do imaginário.
O problema é perdermos o senso crítico e acreditarmos que o nosso mundo é uma ilusão. Nesse ponto passamos a fazer parceria com a trilogia Matrix, o hinduísmo e o budismo, entre outras visões de mundo.

O hinduísmo
No hinduísmo, acredita-se que o deus Brahman teve um sonho em que gotículas saíam do seu corpo como gotículas de suor. Elas foram crescendo, transformando-se e evoluindo no cosmo, nas galáxias, nos planetas, nos homens, nos animais, na natureza... e tudo o que hoje conhecemos como o mundo fisicamente real não passa de um sonho do deus Brahman. Portanto, a única realidade seria apenas Brahman.
Vivemos, então, supostamente em uma ilusão (maya) criada por Brahman. Para que Brahman criou essa ilusão? Os hinduístas respondem que Brahman a criou para sua própria diversão (lila). Resumindo, no hinduísmo, nosso complexo mundo físico, com todos os seus ecossistemas, e nosso sofisticado corpo humano não passam de uma realidade virtual, como um joguinho de computador, semelhante ao The Sims, Sim City ou Age of Empires.

O budismo
No budismo, aprendemos que Gautama Buda era um príncipe hinduísta que abandonou seu castelo, sua esposa e seu filho para descobrir a causa de tanto sofrimento. Meditou embaixo de uma figueira e descobriu que a razão do sofrimento seria, resumidamente, o apego e o desejo. A solução budista está em cada pessoa descobrir a sua própria "não-existência".
Segundo o budismo, o homem simplesmente deve entender que não existe o "eu". As últimas palavras de Buda, aos oitenta anos e antes de morrer de disenteria, foram: "tudo é impermanente".

O cristianismo
O ensinamento de Jesus é que o homem existe e deve "negar-se a si mesmo", negar o seu "eu" e tomar a sua cruz (veja Marcos 8.34). No cristianismo, o "eu" existe e deve ser subjugado, morto, e não enaltecido.
Quando o apóstolo Paulo falou aos filósofos gregos no Areópago, em Atenas, fez referência ao altar que tinha a inscrição: "Ao Deus Desconhecido" (Atos 17.23). Paulo disse que estava anunciando esse Deus para os atenienses. Na verdade, o altar "ao Deus desconhecido" tinha uma história, de que tanto Paulo quanto aqueles filósofos tinham conhecimento.

Ao mencionar que em Deus "vivemos, e nos movemos, e existimos" (Atos 17.28), Paulo estava citando o poeta Epimênides de Creta (do sexto século a.C.). Conta-se que Epimênides foi convocado de Knossos, na ilha de Creta, para Atenas, quando os habitantes da cidade enfrentavam uma terrível peste. Nenhum dos deuses de Atenas tinha sido capaz de livrá-los dessa praga e o oráculo de Delfos indicava a existência de um Deus que não estava sendo agradado pelos atenienses. Epimênides sabia como agradar a esse Deus "ofendido e desconhecido". Quando chegou a Atenas, soltou um rebanho de ovelhas no Areópago, orientando a população a erguer um altar "ao Deus desconhecido" no local onde elas parassem para repousar. Vários altares foram construídos e a praga cessou.
Epimênides talvez seja um exemplo do homem pagão que, mesmo em trevas espirituais, "apalpou" e encontrou o Deus verdadeiro "que não está longe de cada um de nós" (Atos 17.27).
A vida espiritual também é assim. Enquanto os homens não conhecem o Deus de Israel, a vida é sem motivo e sem razão, a esperança no porvir é tão escura como o breu, a existência é uma ilusão doentia e a morte eterna é seu destino final (pois sofrem de um flagelo espiritual). Sem Deus, a humanidade enfrenta uma epidemia espiritual caracterizada pela mortandade.
Quando, porém, Jesus se faz conhecido, uma luz ilumina as trevas, como um farol que norteia os marinheiros em uma tempestade, e cessa a pestilência espiritual que parecia não ter mais fim. Ele é a certeza de que chegaremos à bonança do lar eterno após uma vida sofrida. Jesus nos dá a convicção de que não tateamos mais no escuro. Com Cristo, marchamos firmes e certos de que um dia estaremos para sempre no descanso do Senhor, pois "nele vivemos, e nos movemos, e existimos" (Atos 17.28).
Conclusão
Nosso mundo é tão real como uma rocha. Uma rocha é constituída por átomos, como outros objetos do mundo. E os átomos, formados por quarks. Os quarks podem ser produzidos por supercordas. Se prosseguirmos além disso, entramos em terreno cientificamente desconhecido. A fronteira entre a existência e a inexistência pode não ser muito bem determinada nas ciências humanas (especialmente na filosofia), mas é clara na Bíblia Sagrada: quando saímos da existência física, passamos para uma existência espiritual, invisível, mas também real.
Sim, a realidade existe tanto na dimensão física (visível e palpável) como na espiritual (invisível e impalpável). Somos reais e criaturas do Deus vivo. Como afirma Todd Charles Wood, geneticista do Institute for Creation Research (Instituto de Pesquisa da Criação): "Deus criou o organismo no Gênesis em um estado maduro, e o genoma é o banco de dados que garante sua continuidade no estado maduro". Ou, como relata o profeta Isaías: "Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada. Eu sou o Senhor, e não há outro" (Isaías 45.18). Essa é a emersão da nossa realidade! É o nosso devir! E Deus seja louvado! Amém. (Dr. Samuel Fernandes Magalhães Costa - http://www.chamada.com.br)

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